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  Filme “Em nome de Deus” e os caracteres do Romantismo português
Por: Lindiane Cardoso

Na França do século XII, período em que os intelectuais não podiam se render ao amor sensual, um casal vive uma intensa paixão. São Abelardo e Heloise, o maior filósofo da França e uma linda jovem rica de 17 anos, sobrinha do clérigo Fulbert. Os dois se conhecem quando Abelardo é contratado para ser o tutor de Heloise, sendo, por meio das aulas que ambos se apaixonam e começam a viver um amor proibido para a época, pois Abelardo havia feito votos de castidade. Entretanto, isto não os impediu de viver a paixão a ponto de o clérigo Fulbert descobrir o romance e trancar Heloise em casa, período em que ela descobre estar grávida de Abelardo. Assim, ela é levada pelo amante para a cidade onde ele nasceu com o objetivo de ter o filho com segurança. Abelardo permanece na França lecionando e após um longo tempo visita Heloise e casa-se com ela contra o conhecimento do tio Fulbert. Ao saber do ocorrido, o tio de Heloise, desejoso de vingança contrata capangas e manda castrar Abelardo. Assim, o filósofo se vê obrigado a desistir do amor por Heloise tornando-se padre sendo acompanhado por ela que entrar para o convento. Porém, o amor não cessa e os amantes passam a escrever um ao outro cartas carregadas de declarações amorosas. A ligação entre os dois permaneceu pós-túmulo, pois, Abelardo e Heloise foram enterrados lado a lado.
Nesta bela e apaixonante narrativa é possível encontrar marcas fortes do movimento literário intitulado Romantismo no que concerne, não somente à história de amor proibido – ponto chave nos romances históricos como Romeu e Julieta ou Helena e Páris -, mas também, os detalhes do período literário como a concretização do amor somente após a morte ou o escapismo do amor pela religião ou ainda, o fato de viver um amor suprimido e por ele sofrer revoluções de espírito.
            Desse modo, no filme “Em nome de Deus”, isto é, nesta representação da história de Abelardo e Heloise, percebe-se a característica da morte como único meio possível para viver o amor quando a moça apaixonada, já vestindo o hábito por certo tempo, pede para quando ele falecer que ela possa, novamente, "se deitar na cama dele", no qual recebe de resposta um sim. Nota-se, assim, a forte presença romântica no aspecto de conduzir o amor eterno para o pós-túmulo, única alternativa para amar livre de empecilhos, característica presente nas poesias do movimento literário como “Partida” de Soares de Passos.
            Há, também, um paralelo em contraste no filme e no Romantismo no que se refere à exaltação da nobreza do herói. No filme, Abelardo não abandona Heloise pela filosofia, nem abandona a filosofia por Heloise, assim, compreende-se que o homem romântico é nobre em cumprir com seus compromissos, neste caso, a profissão e o amor por uma mulher. Do mesmo modo, tanto Abelardo e Heloise, ao tornarem-se religiosos, se respeitam mutuamente, conservando o amor somente por palavras e olhares.  No Romantismo português, pode-se citar o romance de Alexandre Herculano como exemplo de nobreza: “Eurico, o presbítero”. É a narrativa de Eurico que privado de se casar com sua amada Hermengarda, prefere seguir o caminho da religião (escapismo) e ao estar com a amada nos braços não foge ao juramento de manter-se longe dos prazeres mundanos, das paixões, como a que sentia pela mulher em seus braços.
            Neste ínterim, é plausível destacar também outra marca do Romantismo apresentada no filme: o escapismo para a religião. Abelardo é privado de amar Heloise, e, além disso, considera a paixão vivida até então como erro e por isso fora castigado, então, resolve tornar-se padre solicitando que a esposa também fuja para a religião. A obra já citada, “Eurico, o presbítero”, apresenta tal caractere romântico quando o herói Eurico entrega-se à religião após ser privado de casar com Hermengarda.
            Por fim, delineadas as proposições acerca do Romantismo português e o filme “Em nome de Deus”, é plausível considerar a produção cinematográfica uma peça fundamental para a análise do movimento literário, com suas concepções de amor eterno na pós-morte, do escapismo para a religião quando há privações amorosas e também, para caracterizar o herói romântico nobre de coração.
Túmulo de Abelardo e Heloise


E quem nunca teve uma história de amor que acabou de maneira triste! Então, que tal transformar esse amor não realizado em uma peça de teatro? A proposta é dividir a turma em três grupos, elaborar uma peça trágica sobre uma história de amor e depois apresentar para a turma. Cada apresentação terá 30 min.



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Amor é um fogo que arde sem se ver - Camões

Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Monte Castelo -Legião Urbana

Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos,
Sem amor eu nada seria.
É só o amor! É só o amor
Que conhece o que é verdade.
O amor é bom, não quer o mal,
Não sente inveja ou se envaidece.
O amor é o fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor eu nada seria.
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É um não contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder.
É um estar-se preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É um ter com quem nos mata a lealdade.
Tão contrário a si é o mesmo amor.
Estou acordado e todos dormem.
Todos dormem. Todos dormem.
Agora vejo em parte,
Mas então veremos face a face.
É só o amor! É só o amor
Que conhece o que é verdade.
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos,
Sem amor eu nada seria.

1 Coríntios 13 (Biblia)




Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.
E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos;
Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.
Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.


Meus amores, leiam os três textos, façam uma análise bem amorosa, com muita paixão. Depois reflitam sobre a concepção de amor expresso em cada texto. Posteriormente, escrevam também um texto que fale de amor.


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